terça-feira, 22 de dezembro de 2015

INDIFERENTISMO IGNÓBIL...

“por que lutar se tudo tem um lado positivo? Repetimos: esse pacifismo é a quinta essência, destilada, pasteurizada, licorosa, adocicada daquela inimizade medular, moléculas que a filosofia do Homem-exterior difun­diu durante quatro séculos. Comparadas a esse indiferentismo ignóbil, as guerras mais horríveis são ainda uma reação sau­dável e cordial de uma pobre humanidade que se obstina em crer que valha a pena lutar e morrer por uma palavra, por uma mulher, por uma bandeira, por uma idéia, e, com muitíssimo mais forte fundamento, por um credo”.
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Gustavo CORÇÃO. Dois Amores  Duas Cidades, 2. vol., Rio de Janeiro: Agir editora, 1967, p. 340.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A CORRUPÇÃO DOS MELHORES

“A Cidade é como um navio de homens, a bordo do qual, esses homens enfrentam a fúria dos elementos e alcançam seu termo ou destino, mas que também podem naufragar. Quando um barco é bem pilotado e reina a bordo a ordem e a hierarquia, tudo nele, até mesmo os defeitos da tripulação, aproveita para o bem (pensemos na rudeza dos marinheiros, que pode ser necessária em momentos de perigo). Quando, em troca, a direção do navio é débil e vacilante; quando se duvida da rota empreendida ou surge o temor do motim interno, tudo nele conspira para o mal, até mesmo as virtudes dos bons, aos quais o próprio pânico na defesa dos seus converte em feras. E de tal maneira a vida privada e a pública são interdependentes que a corrupção da cidade corrompe ao homem, e em tanto maior medida quanto maior é a qualidade de sua alma, porque a ‘corrupção do melhor é o pior’. Semelhante à terra de má qualidade que prejudica, antes de tudo, as boas plantas fazendo-as degenerar ou morrer, ao passo que permite a vida das ervas ruins, assim a sociedade – terra do homem – acarreta com sua corrupção a degeneração moral dos melhores”.
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Rafael GAMBRA. Sociedad y religación: la Ciudad como habitáculo humano. Revista Verbo, n. 91-92, p. 11.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DESORDEM TOTAL...

Uma desordem total invadiu o nosso século. Em proporções gigantescas e com indomável força ela, dia a dia, conquista os núcleos básicos da comunidade humana.
A característica principal da forma moderna da desordem é a inversão dos valores do convívio humano, que começa cortando os laços que ligam os diversos escalões da hierarquia social e termina no desentendimento total dos homens.
Na família, os filhos estão surdos para o timbre da voz paterna. Os pais estupefatos temem os filhos. Temem principalmente perdê-los. Com cabisbaixa fraqueza cedem às suas imposições, para não perderem aqueles que de há muito perderam. Congrega-os o lar apenas por laços de um certo instinto gregário e os interesses monetários dos filhos. Mas o filho já é um estranho na casa.
Na escola, a professora condicionada por uma pedagogia que nega a tendência da criança para o mal (tendência que é um claro indício do pecado original) e o valor educativo das punições, docilmente cede a todos os caprichos infantis.
Nos ginásios, os adolescentes agrupados na promiscuidade da co-educação, iniciam-se nas “viagens do fumo” e dos tóxicos, preparam-se para o amor nas “inocentes” práticas sexuais, sob os olhares estimulantes e compreensivos dos orientadores educacionais.
Nas universidades, os representantes do mais tolo mito do século, o mito do JOVEM, elaboram os programas, impõem e depõem os mestres e dirigentes, sob o pastoral treinamento, nas universidades católicas, de sacerdotes mais imaturos que eles e que os orientam conforme a moral permissiva e a linha subversiva.
As nações, na desarvorada corrida para a tirânica democratização, já atingiram, ou estão prestes a atingir, o mais que perfeito regime da desordem institucionalizada de um Chile, de um Argentina ou dos ensaios brasileiros pré-64.
Entre os católicos o vírus do desconcerto infiltrou-se em proporções alarmantes. Os detentores do poder sagrado, por pusilanimidade, por irresponsabilidade, por comodidade, por estupidez, ou, o que é mais provável, por tudo isso junto, entregaram de mãos beijadas o governo às conferências episcopais, às comissões de peritos, que funcionam como imensas máquinas manipuladas pelos técnicos da pastoral. Um poder invisível, onipresente e onipotente, age como um rolo compressor, esmagando o doce e paterno cuidado dos pastores. Estes, submissos e silenciosos, no clima asfixiantes dos diálogos, assinam tudo o que os secretários das linhas pastorais 1, 2, 3, etc. lhes enviam para que livremente não deixem de aprovar. O resultado do funcionamento dessa burocracia eclesiástica é, além das estatísticas e das verbas astronômicas dispendidas, a orientação para uma vida cristã onde em moral vale tudo e, em doutrina, nada vale a verdade transmitida há dois mil anos.
O princípio norteador da Grande Revolução é a quebra da ordem pela destruição da hierarquia, da imagem do pai, do sacerdote e do príncipe.
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Gustavo CORÇÃO. O quarto mandamento, Permanência, Julho de 1973.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

CONTRA A PESTE MARXISTA...

É uma mentira que a revolução marxista esteja empenhada na luta pela justiça e pelo bem-estar de todos os trabalhadores, pois onde vence impõe a todos, e especialmente aos operários, uma exploração e opressão totais.
É uma mentira que a revolução marxista realmente esteja comprometida na luta pela libertação do homem, pois, sendo materialista e atéia, constrói uma sociedade totalitária, com uma completa escravidão.
Cada homem, e especialmente o cristão, tem o dever de comprometer-se na luta contra a peste marxista, até sua completa derrota, até que seja eliminada e desterrada da vida humana.
Não basta defender-se do marxismo e sua revolução; é necessário também ataca-lo, destruí-lo. Não basta que defendamos nossa liberdade ameaçada; é necessário sair em defesa da liberdade dos demais, dos que perderam essa liberdade e há mais de meio século apodrecem nos campos de concentração nos países subjugados pelo marxismo. A liberdade é uma só. Nós, entretanto, que vivemos nos países livres, não podemos nos sentir completamente livres, sabendo que já outros seres humanos, nossos irmãos, que sofrem na escravidão imposta pelo totalitarismo marxista.
Aceita a coexistência do mundo livre com o mundo escravizado é trair a liberdade e viver em permanente medo de que nós também caiamos algum dia na escravidão. É necessário libertar todos os países vitimas da agressão marxista...
O marxismo e sua revolução é que envenenam a convivência humana, provocando a profunda crise em que ora vivemos. A eliminação, pois, do marxismo e sua revolução de nossa vida é o único caminho para salvar-nos da espantosa e desesperante crise na qual se encontra atualmente a humanidade, a crise que, sem ser solucionada, tarde ou cedo, vai levar-nos a uma catástrofe de proporções apocalípticas.
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Miguel PORADOWSKI. Em face do maior imperialismo da História, Revista Hora Presente, n. 23, Outubro/1977, p. 64-65. 


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

AS LEIS DE "EDUCAÇÃO"

Talvez nenhum instrumento tenha se revelado mais eficaz para dissolver o alicerce familiar de uma sociedade que as famosas Leis de Educação de inspiração socialista, “made in UNESCO”, como a lei Edgar Faure na França, ou a lei do “Libro Blanco” na Espanha.
Estas leis destinam-se – como oficialmente foi dito – a “mudar a mentalidade do país”, mas precisamente através da dissolução efetiva da sociedade familiar. O ensino geral e uniforme e obrigatório requer – como se sabe - concentrações escolares, mesmo assim gerais e obrigatórias. O pai de família ao ver partir seu filho de 10 anos em “condução escolar” para ser “educado” em outra cidade, por vezes distante e em regime de aquartelamento, de segunda a sábado, pode dizer adeus à alma deste filho, e também à ideia de continuidade familiar, ao prolongamento do seu trabalho, de suas terras, de tudo quanto poderia considerar “seu”. Se isto não pode evitar, como evitará anos mais tarde alguns cursos de “aperfeiçoamento cultural ou técnico” do seu filho, por exemplo, na União Soviética Talvez alguém considere aqui um exagero, e certamente o é pelo momento. Mas é sabido que o essencial está em aceitar o princípio (no caso, que a educação e “profissionalização” é assunto do Estado): o restante logo virá, é questão de apertar a seu tempo os parafusos.
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Rafael GAMBRA CIUDAD. As novas técnicas da Revolução Cultural, in Revista Hora Presente, novembro/1972, n. 13, p. 162-163. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

LUTA CONTRA O DESÂNIMO

       

(Argel,1943)

         “Senhor, dai-me a paz dos estábulos, a paz das coisas organizadas, das colheitas realizadas.
         Permiti que eu seja, tendo terminado de tornar-me, estou cansado dos lutos do meu coração, estou velho demais para recomeçar, perdi um após outro meus amigos e meus inimigos, e em meu caminho fez-se uma luz de ócios tristes.
         Meu Deus, afastei-me de vós, mas voltei, vi os homens ao redor do velocino de ouro, não interessantes, mas estúpidos, e as crianças que nascem hoje são mais estrangeiras que os jovens bárbaros. Sinto-me carregado de tesouros inúteis como de uma música que não será jamais compreendida. Comecei minha obra com o machado de lenhador na floresta, e estava embriagado com o cântico das árvores, mas, agora que vi de muito perto os homens, estou cansado.
         Aparecei perante mim, Senhor, pois tudo é duro quando se perde o gosto de Deus.
         Em que se reencontrar, lar, costumes, crenças, eis o que é tão difícil hoje e o que torna tudo tão amargo...

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Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Cartas do Pequeno Príncipe, BH-SP: Itatiaia, 1974, p. 38.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A NOVA MORAL CONJUGAL E A CORRUPÇÃO DA FAMÍLIA

Não foge à observação geral o movimento organizado e a sistemática ação com que as forças tenebrosas se empenham na subversão da ordem em todas as nações, com o fim de destruir a civilização cristã.
O plano foi projetado com superior habilidade: alvo primeiro e preferido é a família, célula que é do organismo social, condição e garantia do seu bem-estar e prosperidade.
Podemos acompanhar as etapas da campanha: afrouxamento do vínculo conjugal pela emancipação da mulher; perversão, por múltiplos métodos de contracepção, de sua missão de propagar a vida humana; destruição, pelo aborto oficializado, dessa vida já iniciada; extermínio, lento mas radical, da própria família pelo divórcio, pelo amor livre, pela homossexualidade.
Aceleram este movimento de desagregação as grandes revistas de consórcios internacionais; os teatros, cinemas e televisões teleguiados por forças secretas; os Institutos, especializados em contracepção, o poderoso BEMFAM...
O mais consternador é publicações católicas e mesmo sacerdotes cooperam para a penetração dos princípios corruptores nas famílias.
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Paulo BANNWARTH S.J.. A propósito da “nova” moral conjugal, In. Hora Presente n. 13, Ano IV, Novembro/1072, p. 208.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

AS APOSTASIAS: COMO SURGEM, COMO ACABAM

“Quase todas as apostasias são aventuras vulgares, porém todos os apóstatas acreditam que seu caso é de enorme transcendência para a Igreja. Todas as apostasias começam pretendendo algum bem espiritual, que se quer impor contra as regras divinas. A princípio o orgulho se esconde de mil maneiras, e só aparece quando se esbarra contra a vontade do Superior. Produz-se, então, a obstinação no próprio juízo e, como consequência, a rebeldia contra a suprema autoridade. E nem bem vem a conservar-se a ruptura definitiva, que costuma ser altissonante e aplaudida pelo mundo, vemos que Deus castiga o apóstata, permitindo-lhe cair nessa aventura vulgar, para que sejam vistos os pés de barro daquela estátua de ouro.”
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Hugo WAST (1883-1962), celebre escritor argentino, de quem já fizemos duas postagens neste espaço. Uma delas é o belo texto que traduzimos denominado O homem que nunca havia rezado e a outra é a tradução do primeiro capítulo do seu magnífico e atualíssimo A autobiografia do filhinho que não nasceu.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O PROGRESSO DESAGREGADOR DA FAMÍLIA

“É preciso que todos, não somente o Governo, se mantenham em permanente estado de alerta, para que a conspiração contra a família não leve a sociedade ao naufrágio.” (...) “Desorganizar a família equivale a abalar os fundamentos da sociedade e da própria nação e nos ataques contra essa instituição a criança é a primeira grande vítima.” (...) “Os ataques mais graves não são os internos, mas os externos, oriundos de duas condicionantes: a concepção individualista do destino do homem e um plano habilmente filtrado para minar as bases de nossa civilização. A primeira razão faz do matrimônio um simples contrato, retirando seu caráter sacral e o despindo de personalidade sagrada. O homem casa e descasa, se emancipa e pratica o amor livre, “porque é direito seu.” No segundo caso, minar a família, propagar irresponsavelmente a liberdade sexual, pelos meios de comunicação e influenciando subliminarmente, fazendo a impregnação sinuosa e hábil, é atacar a maior rocha, a grande fortaleza contra as tentativas de devassidão e quebra de valores. Também as drogas, a expedição contra a juventude, desvirilizando-a e a jogando na inutilidade dos devaneios, é parte do processo desagregador”.
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Do discurso do Prof. Alfredo BUZAID, então Ministro da Justiça, no II Encontro Nacional de Secretários de Estado, em Belo Horizonte. – “Diário de São Paulo”, 23/XI/72.

Foro de São Paulo e a "despatriarcalização".... 
Ou, o projeto de destruição da Família.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A CRISE DO SAGRADO

“A existência de uma crise do sagrado na sociedade contemporânea é fato real. Pode-se comprovar sua manifestação tanto em nível pessoal – na diminuição da vida interior e de oração – como no plano social, na secularização da sociedade. Esta crise não é consequência necessária da assim chamada civilização técnica; ela não é tampouco um fato irreversível ao qual seja necessário adaptar-se. Esta crise é a expressão atual da essência mesma do mal, ou seja, do esquecimento de Deus.
Não se pode negar que esta crise do sagrado penetra no próprio cristianismo. Ela se manifesta na tendência de reduzir o espirito evangélico a um simples serviço do próximo – menosprezando o amor de Deus - e a um amor do próximo que se identifica com uma ação meramente terreno e temporal”.

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Cardeal Jean DANIELOU, trecho de uma entrevista à Radio Vaticana, em outubro de 1971.


terça-feira, 17 de novembro de 2015

OS DIREITOS DO HOMEM...

“Ora, convém lembrar que a história dos direitos do homem core paralela à da Revolução que quer acabar com a última lembrança do senhorio de Deus. Não me refiro aqui à história do direito que é paralela à da lei natural e portanto da lei divina, mas a esta específica noção de “direitos do homem” que surgiu na Revolução Francesa e na Independência Americana como um movimento maçônico, ou como uma rebelião do novo humanismo. Até hoje na ONU e nos pronunciamentos eclesiásticos guardam esses “Direitos do Homem” o mesmo sabor contestatário que quer “a morte do Pai”. No mundo que já foi católico, os mais altos personagens que jogam o duplo jogo não escondem o seu entusiasmo pela bandeira da Revolução e não disfarçam seu desprezo pelos mandamentos de Deus”.
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Gustavo CORÇÃO. “Os Direitos do Homem”, em O Globo de 25/5/74.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

APELO DE MÉDICA CAÍ COMO UMA BOMBA NO SÍNODO DA FAMÍLIA.

 Fides Press -   21/10/2015


“A missão da Igreja é a de salvar as almas. O mal, neste mundo, provém do pecado, e não da desigualdade de renda nem das mudanças climáticas”.

A doutora Anca-Maria Cernea, uma médica do Center for Diagnosis and Treatment – Victor Babes (Centro de Diagnóstico e Tratamento – Victor Babes) e Presidente da Associação dos Médicos Católicos de Bucareste (Romênia), apresentou ao sínodo, aos 16 de outubro, o seguinte apelo ao Papa Francisco e aos padres sinodais:


Santidade, Padres sinodais, irmãos e irmãs,
Eu represento a Associação dos Médicos Católicos de Bucareste.
Pertenço à Igreja Grego-Católica Romena.
Meu pai era um líder político cristão que foi preso pelos comunistas por 17 anos. Meus pais estavam noivos, prestes a se casar, mas o casamento deles ocorreu 17 anos depois.
Minha mãe esperou por meu pai por todos esses anos, mesmo sem saber se ainda estava vivo. Foram heroicamente fiéis a Deus e ao compromisso deles.
O exemplo deles mostra que, com a Graça de Deus, se pode superar terríveis dificuldades sociais e a pobreza material.
Nós, como médicos católicos, em defesa da vida e da família, podemos ver que, antes de tudo, se trata realmente de uma batalha espiritual.
A pobreza material e o consumismo não são as causas principais da crise da família.
A causa principal da revolução sexual e cultural é ideológica.
Nossa Senhora de Fátima disse que a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo.
Isso aconteceu primeiro com a violência: o marxismo clássico matou dezenas de milhões de pessoas.
Agora acontece, sobretudo, com o marxismo cultural. Há uma continuidade entre a revolução sexual de Lenin, passando por Gramsci e a Escola de Frankfurt, até à hodierna defesa ideológica dos “direitos” dos gays.
O marxismo clássico pretendia redesenhar a sociedade, através da violenta apropriação dos bens.
Agora, a revolução vai ainda mais a fundo: pretende redefinir a família, a identidade sexual e a natureza humana.
Essa ideologia se autodenomina “progressista”. Mas nada mais é do que a oferta da antiga serpente ao homemno sentido de assumir o controle, de substituir Deus, de organizar a Salvação aqui, neste mundo.
É um erro de natureza religiosa: é o gnosticismo.
É tarefa dos pastores reconhecê-lo, e alertar o rebanho contra este perigo.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33).
A missão da Igreja é a de salvar as almasO mal, neste mundo, provém do pecado, e não da desigualdade de renda nem das “mudanças climáticas”.
A solução é a Evangelização, a conversão.
Não pode ser (a solução) um sempre crescente controle do governo. Não pode ser nem mesmo um governo mundial. São exatamente estes, hoje, os principais atores que impõem o marxismo cultural nas nossas nações,através do controle da população, a “saúde reprodutiva”, os “direitos” dos homossexuais, a educação de gênero etc.
O que o mundo precisa, hoje mais do que nunca, não é a limitação da liberdade, mas a verdadeira liberdade: a libertação do pecado. A Salvação.
A nossa Igreja foi suprimida pela ocupação soviética [refere-se à história da Romênia, em particular, mas quem quiser ler mais do que isso, não está errado! NdT]. Mas nenhum dos nossos doze bispos traiu a comunhão com o Santo Padre. A nossa Igreja tem sobrevivido graças à determinação e ao exemplo dos nossos bispos, os quais têm resistido ao cárcere e ao terror.
Os nossos bispos pediram à comunidade para não seguir o mundo, para não cooperar com os comunistas.
Agora precisamos que Roma diga ao mundo:
 “Arrependei-vos de vossos pecados e convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”.
Não só nós, os leigos católicos, mas também muitos cristãos ortodoxos, rezamos com ansiedade por este sínodo, pois, como se diz, se a Igreja Católica cede ao espírito do mundo, então é muito difícil também para todos os outros cristãos resistir.

Dr.ª Anca-Maria Cernea
– Fonte: lifesitenews.com


terça-feira, 20 de outubro de 2015

A GLORIA DE DEUS PESA, ESMAGA.

O sacerdote de Deus, o homem consagrado pelo Bispo que é o próprio Cristo, também recebe o paramento. O ouro, a seda, a púrpura entram no seu vestuário para o espanto do mundo que só vê nisso a "pompa" da Igreja, o alarde dos recursos financeiros da cúria. O sacerdote veste o ouro e a seda, veste a Glória por cima do hábito da penitência, realizando uma consumação terrível como aquela da cruz.
O reino de Deus se encontra com o Reino de Deus, a prontidão escatológica passa no ato de Glória, vive a presença do Rei. Repete-se a experiência da cruz na pessoa do sacerdote mas aqui, lembrando a crucificação de Pedro, o que nos ombros consagrados não é a penitência, é a Glória. O paramento crucifica. A Glória de Deus pesa, esmaga. Contam que Pio XI, nas grandes solenidades sentia a tal ponto a enorme carga da Glória do Senhor que aparecia com uma palidez cadavérica. Um imenso e acabrunhante "non sum dignus" apertava-lhe o coração piedoso.
 Mas no burguês não. Nele o manto não pesa. Não o deve a ninguém, comprou e pagou. Vestiu-se. Consagrou-se. Cada um deles é um universo fechado, um Deus. 
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Gustavo CORÇÃO. Rostos, roupas e paramentos, A Ordem, Julho de 1942.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A MONARQUIA DO LAR

E na casa se vive, sob as monarquias do pai e da mãe, as aristocracias dos maiores ou mais capazes, as repúblicas dos iguais, e, como não, também suas perversões, as tiranias de monarcas mal entendidos e egoístas, as plutocracias que decorrem desse egoísmo e as democracias que ocultam afãs anárquicos através de outras perversões. Aprende-se então que a coisa mais excelente pode ser pervertida e originar muitos males, como o berço que foi empregado para esmagar a cabeça de uma criança. Aprende-se então que as estruturas nem são boas nem são más em si mesmas, mas que podem ser prejudiciais ou benéficas segundo o uso que delas se faça. Aprende-se, pois, a saber que a sociedade é segundo sejam seus componentes, e, normalmente, nem totalmente má nem totalmente boa. Aprende-se assim o realismo.
Por outro lado, aprende-se que cada homem e cada coisa tem simultaneamente uma qualificação - ou zona - publica e outra privada; que há uma intimidade inviolável de cada pessoa, mas ao mesmo tempo que nela há algo que é de todos, e este fato se repete em cada grupo social. A criança aprende que dispensa e os móveis da casa são públicos para os membros família e para os que com ela habitam, mas são privados em relação aos que não são da casa; do mesmo modo logo encontrará em uma cooperativa, em um clube, em um município etc, o mesmo fenômeno de ser público para uns, privado para outros, segundo a lei natural das comunidades. E a ideia das comunidades nasce assim como a de círculos dentro dos quais existe o público que é privado para o exterior.
Mas, ao mesmo tempo, o camponês sabe que pertence a diversos grupos simultaneamente, como filho de uma casa, como vizinho de um povo, por ofício, por afeições que o impelirão a fazer parte de um coro ou de um grupo teatral, mediante o qual cada pessoa manifesta e solidifica socialmente as diversas facetas que formam a personalidade individual dentro de personalidades coletivas diversas.
Ao mesmo tempo, no campo, as casas estão relacionadas entre si por laços de sangue, amizade, negócio, vizinhança, e sobretudo pelos membros comuns entre duas comunidades. Assim os povos são verdadeiras famílias de famílias nas quais sobretudo o sangue e a amizade travam entre si as unidades sociais das casas. Não são simples amontoados de areia, ou quantidades de água que adotam a forma da vasilha, não são gomos de bola desligados entre si e que só o envoltório do couro mantém reunidas; são elementos fortemente trabalhados dentro de cada casa e que formam elementos de distintas ordens, sempre ligados intimamente ao modo em que os órgãos do corpo estão intimamente reunidos entre si.
Não são membros postiços que mudam ao nosso capricho, são o que são porque assim são. E a sociedade não é uma organização racionalmente constituída a priori pelo governo, mas um grande corpo de múltiplos órgãos que desenvolveram-se a partir de um embrião, naturalmente, com a colaboração da razão prática dos membros que a integram; e, por isso, a sociedade não é massa, nem é ortopédica, mas fundamental e naturalmente orgânica, coisas que no campo esta à flor da pele.
E do mesmo modo que aprende-se com um animal não pode ser selado nem ser levado a lavrar enquanto não tenha crescido e logo aprendido a fazê-lo, também a criança camponesa conhece que as limitações vão sendo suprimidas à medida que ele adquire fortaleza e capacidade para exercer o que lhe era proibido: manejo de ferramentas, decisões, responsabilidades que lhe vão sendo confiadas à medida que suas capacidades se desenvolvam. As liberdades não são uma ideia abstrata; se fazem muito concretas no social, e cada nova liberdade adquirida dilata os limites da liberdade, mas nunca os suprime, de modo que, ainda quando adulto, o camponês reconhece naturalmente a necessidade de submeter-se a certos limites sociais da liberdade. A liberdade selvagem, ilimitada, na tem aqui sentido algum, pois todas as liberdades muito bem conhecidas são concretas e, por si mesmo, o concreto é limitado, ao mesmo tempo que ordenado.
Outro aspecto da liberdade lhe vem de longe com as vagas lembranças de antigas servidões hoje aparentemente extintas. É o aspecto politico no qual liberdade é capacidade de pactuais ou contratar. O servo não tinha esta liberdade e nisso estava sua servidão; sem embargo, um homem livre podia servir a outro sem perder sua liberdade enquanto ele tivesse a capacidade de pactuar seu serviço. Os antigos senhores foram substituídos modernamente por um único, mas total senhor, que se materializa na Administração do Estado, contra o qual não cabe recurso nem pacto. Isto só foi totalmente realizado nos países em que o Estado de Hegel é uma realidade total, mas ainda em todos os demais, inclusive na Espanha, a tentação de ampliar o poder que tem, leva a administração a implantar este caráter indiscutível de mando, sem possibilidade de pacto em muitos pontos de sua atuação. Este conceito de liberdade politica como capacidade de pactuar é de origem tipicamente rural, desde a Idade Média, já que na Catalunha feudo significou verdadeiramente pacto (foedus, foederis).
E, acima destas liberdades, no terreno interno e pessoal que é inviolável, o camponês sabe que tem uma liberdade interior fortemente relacionada com sua capacidade de amar e de odiar. Nela, cada homem pode optar pelo bem e pelo mal, pode orar ou blasfemar como – segundo bem disse Martín Descalzo – um lavrador só blasfema por estar tão perto da ação do Criador na natureza.
Nestes conceitos, poucas vezes formulados, mas que todos dão por solidificados, os direitos são sempre também deveres. Direito de regar é dever de regar, e sem o segundo o primeiro carece de sentido. Igualmente os direitos do herdeiro catalão era uma coleção de deveres. Direito-dever são a mesma coisa e que tem relação com os conceitos anteriores de liberdade, de modo que, na vida normal, os camponeses falam pouco deles, mas usam de regras muito rígidas em relação a eles. Isso não quer dizer que a influencia da televisão e do cinema não lhes façam também falar de liberdade e escravidão, em formas parecidas com que dizem os homens da cidade...

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José Maria GIL MORENO DE MORA (1926-1979). Salvar el campo, salvar la patria. Verbo, n. 178, pp. 929-930.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

QUANDO EU MORRER.

Senhor, eu chego a ti, porque trabalhei em teu nome. Para ti, as sementeiras.
Construí este círio. Pertence-te acendê-lo.
Construí este templo. Cabe-te habitar o seu silêncio.
A presa não é para mim. Eu limitei-me a construir o laço.
Tome essa atitude para ser animado por ela. Construí um homem segundo as tuas divinas linhas de força, para que ele caminhe. Pertence-te usar do veículo, se vires nisso a tua glória.
Assim, do alto das muralhas, lancei um profundo suspiro. Adeus, meu povo – pensava eu. Esvaziei-me do meu amor e vou dormir. No entanto, sou tão invencível como a semente. EU não disse todos os aspectos do meu rosto. Mas criar não é enunciar. Consegui exprimir-me inteiramente, se emiti um som que é aquele e não outro. Se amei uma atitude, que é aquele e não outra. Se introduzi na massa um fermento que é tal fermento e não outro. Daqui para o futuro, todos vós nascentes de mim. Se se vos deparar um ato a escolher entre outros, haveis de encontrar o invisível declive que vos fará desenvolver a minha árvore, e vos realizardes assim de acordo comigo.
Vós vos sentireis livres, e eu morto. Com essa liberdade que o rio tem de se dirigir para o mar ou a pedra abandonada de descer.
Criai ramos. Criai flores e frutos. Hão de vos pesar na vindima.
Ó meu povo amado, se eu te aumentei a herança, sê fiel de geração em geração.
Enquanto a sentinela dava os cem passos, eu rezava e meditava.
O meu império destaca-me sentinelas que vigilam. Vi assim a atear esse fogo que, n a sentinela, se torna chama de vigilância.
Que belo é o meu soldado quando olha.
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Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Cidadela, trad. Ruy Belo, São Paulo-Lisboa: Quadrante-Aster, CXXX p. 203-204.