terça-feira, 21 de março de 2017

O cura d'ARS


A 31 de Maio deste ano foi canonizado João Maria Batista Vianney (1786-1850) o celebre Cura d’Ars, ao qual nestes termos se refere, em um dos últimos números da revista “E’tudes” o jesuíta Paul Dudou:
Levou na sua paroquia d’Ars, durante quarenta e um anos, uma vida de santo (1818-1859).
A casa dele era a Igreja. De madrugada, já lá estava a rezar. Dizia sua missa, como um serafim, pregava com uma unção de abalar montanhas; ensinava catecismo numa linguagem luminosa ainda para os espíritos menos penetrantes; ouvia de confissão inúmeras pessoas, doze, quinze, dezoito horas seguidas, com uma paciência, uma bondade, uma autoridade de direção, difícil de imaginar.
Quando cessava de ser dos outros, nem por isso se pertencia a si próprio.
Refeições ligeiras, ou antes, repastos de mendigos, temperados com a mortificação quotidiana. Sono curto e mal, no chão duro; noites passadas em sangrentas penitencias, em lutas contra os assaltos do “tinhoso”, em conversas com Deus por meio do breviário ou da oração mental.
Nada de adegas, nem copa, nem vestiários. Não tinha casa montada. Dinheiro, provisões, roupas de cama ou de mesa que passavam pela mão desse perdulário, lá se ia tudo entregue ao primeiro necessitado que se lhe punha diante.
Pouco se lhe dava do amanhã. O cura d’Ars seguia à risca o programa evangélico traçado pelo Cristo nos capítulos V e VI de São Mateus.
No início da carreira pastoral, saia da paróquia, para ajudar os colegas da vizinhança, quando ausentes, em missões ou jubileus.
A breve trecho, apegaram-se as almas àquele pregador e àquele confessor que não se parecia com nenhum outro. De Montmere, Saint Trevier, Savigneux, Caueins, São Bernardo, Trévoux.
Era costume ir muita gente a Ars, em busca do homem de Deus, cuja vida e cujos conselhos tocavam as raias do prodígio.
Assim é que começou essa romaria que aos poucos arrastava aos pés do santo, peregrinos de Dombes, da Bresse, do Bugey, do Beaujoiale, do Lyonnais, e da França inteira, da Bélgica, da Inglaterra e das duas Américas.
Ars, aldeia obscura do preguiçoso Saône, e dos açudes das Dombes, ficou sendo uma das encruzilhadas do mundo.
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Publicado em A Cruz, n. 30, de 19 de julho de 1925. 
 

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